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Conhecer

Património e Cultura

Património
e Cultura

Património
Construído

Nos aglomerados urbanos existem alguns imóveis de interesse público e conjuntos edificados correspondendo à tipologia característica da zona. A listagem que se apresenta corresponde aos Imóveis Classificados de Interesse Público na envolvente próxima do PNTI que merecem destaque e valorização pela sua relação com o rio Tejo.
– Fortaleza de Segura (Segura);
– Igreja Matriz de Salvaterra do Extremo (Salvaterra de Extremo);
– Igreja da Misericórdia de Salvaterra do Extremo (Salvaterra de Extremo);

– Pelourinho de Rosmaninhal (Rosmaninhal);
– Pelourinho de Salvaterra do Extremo (Salvaterra do Extremo);
– Pelourinho de Segura (Segura);
– Estação Arqueológica da Foz de Enxarrique, estação de ar livre do Paleolítico Médio (Vila Velha de Ródão);
– Castelo de Ródão, também denominado Castelo do Rei Vamba, e Capela de Nossa Sra. do Castelo (Vila Velha de Ródão);
– Pelourinho de Vila Velha de Ródão (Vila Velha de Ródão)
– Monumento Natural Portas de Ródão (Vila Velha de Ródão).

Ponte Romana
freguesia de Segura,
concelho de Idanha-a-Nova

Ponte Romana
freguesia de Segura,
concelho de Idanha-a-Nova

Os montes e arraiais, as furdas ou malhadas e outras construções tradicionais, dispersas na proximidade dos povoados, correspondem ao legado dos sistemas agropecuários tradicionais.
As azenhas e os moinhos de água, construídos no leito dos cursos de água, são, também, elementos frequentes, principalmente ao longo do curso do rio Erges.
Uma das atividades tradicionais é a produção e extração de mel que, atualmente, se foi especializando e modernizando, sendo, sobretudo, uma forma complementar de rendimentos. A riqueza vegetal das espécies florais, como o rosmaninho e a urze, permitiu, desde há séculos, o desenvolvimento da apicultura, utilizando,

normalmente, colmeias fabricadas em cortiça (cortiços), que, entretanto, caíram em desuso. Existem, no PNTI, muros apiários, também conhecidos por muros de abelhas. São estruturas produzidas pelas populações para defender as colmeias da ação de predadores, como o urso-pardo, hoje extinto em Portugal. Na Península Ibérica estas construções eram, tradicionalmente, de pedra, circunscrevendo recintos fechados que podiam atingir alguns metros de altura.
Na área do Parque Natural do Tejo Internacional existem três muros apiários, designadamente, os muros Marmeleiro, Silha e ribeira do Vale de Lobo, todos no concelho de Idanha-a-Nova.

Muro apiário
Ribeira do muro alto,
freguesia de Rosmaninhal,
concelho de Idanha-Nova

Muro apiário
Ribeira do muro alto,
freguesia de Rosmaninhal,
concelho de Idanha-Nova

Alares

Uma aldeia fantasma,
uma história singular

O fenómeno do despovoamento é conhecido. Desde há cerca de um século que uma larga franja do interior do país vê partir as suas gentes. Primeiro para o Brasil e os Estados Unidos, depois para as ex-colónias e, finalmente, na direção de uma Europa mais rica.
Gradual, mas inexoravelmente, muitas aldeias vão minguando, envelhecendo, finando-se. A história da aldeia dos Alares é, contudo, bem diferente. Situada já perto do rio Tejo, bem junto à raia, na freguesia do Rosmaninhal, concelho de Idanha-a-Nova, é um lugar deserto, ermo, reduzido às ruínas das pequenas e humildes casas, com as suas memórias tornadas pedras, lajes e prateleiras de xisto do que outrora foi o local de vida de cerca de cem famílias.

A estrutura do povoado permanece visível, sendo ainda possível deparar com alguns artefactos da vida doméstica e do labor da agricultura e do pastoreio.
A sua origem remonta ao início do séc. XIX, quando as populações das aldeias próximas de Monforte da Beira e de Malpica do Tejo procuraram locais mais escondidos, incultos, para se protegerem do Exército Francês que tinha soldados em permanência em Castelo Branco. Se a trama da guerra militar, as Invasões Francesas, esteve na génese desta aldeia (bem como das Cegonhas – Velhas – e da Cobeira), o seu desaparecimento está também, ironicamente, associado a uma guerra, mas desta vez civil, entre populações vizinhas, em resultado de disputas fratricidas de terras.

Alares
freguesia do Rosmaninhal,
concelho de Idanha-a-Nova

Alares
freguesia do Rosmaninhal,
concelho de Idanha-a-Nova

Em 1923, a 7 de outubro, estas três aldeias, que, entretanto tinham adquirido 1/4 dos terrenos a um dos herdeiros do anterior proprietário, o Visconde Morão, foram atacadas pelos habitantes do Rosmaninhal que tinham, precisamente, realizado a escritura de compra dos remanescentes 3/4 daqueles espaços, por via legal, aos restantes herdeiros.
Foi o começo de um terrível período de vandalismo, destruições e pilhagens que impossibilitaram a continuidade da vida e da labuta quotidiana. Somente uma intervenção do Governo Civil de Castelo Branco, já em setembro 1924, impediu que a contenda assumisse contornos mais gravosos, evitando-se, assim, a provável perda de vidas humanas.
As dissensões, porém, continuaram e este litígio só terminou efetivamente em 1930 com a expropriação das terras por parte do Estado e a sua repartição, por sorteio, em frações equitativas aos naturais das diferentes aldeias.

Os habitantes dos Alares acabaram por fixar-se nas terras da Raiz – atual aldeia da Soalheira, encostada ao Parque Natural do Tejo Internacional. Cegonhas (Velha) evoluiu para um aglomerado na proximidade que manteve o mesmo topónimo. Os residentes em Cobeira repartiram-se por estas aldeias e por freguesias vizinhas, quer de Idanha-a-Nova, como o Ladoeiro, quer de Castelo Branco, como Monforte da Beira e Malpica do Tejo.
Uma história singular, uma aldeia que teve vida durante pouco mais de um século e que preserva a memória destes episódios históricos que culminaram com o seu abandono. Há aldeias que afundaram em projetos hidroelétricos, outras, muitas, vão-se esvaindo, até ao abandono e ao despovoamento total, em razão das muitas forças que jogam a desfavor dos territórios rurais. A história conferiu aos Alares um percurso diferente e raro que vale a pena conhecer aquando da sua visita ao Parque Natural do Tejo Internacional.

Texto baseado em “Rosmaninhal – Lembranças de
um Mundo Cheio …”, de Mário Lobato Chambino,
Açafa, n.º 3, Associação de Estudos do Alto Tejo,
Vila Velha de Ródão, 2000.

Alares
freguesia do Rosmaninhal,
concelho de Idanha-a-Nova

Alares
freguesia do Rosmaninhal,
concelho de Idanha-Nova

Rota do Contrabando

A patrimonialização
de uma memória coletiva - o contrabando

O contrabando desta área raiana, como aliás de todo o país, foi um expediente de gentes simples que procuravam acrescentar aos míseros rendimentos da atividade agrícola, realizada de sol a sol, mais recursos para acudir às muitas necessidades de proles familiares numerosas e humildes.
A prática do contrabando foi uma componente da cultura de fronteira que ilustra as oportunidades que dela se podem extrair, assumindo-se num passado recente como um dos recursos basilares da economia de muitos habitantes de ambos os lados da raia. O estigma social que essa atividade carregava é hoje coisa do passado. Em boa verdade, o contrabando constituiu uma resposta às limitações e crueldade que os espartilhos legais e político-administrativos impuseram a uma forma de vida ancestral de trocas comerciais, entre as gentes que viviam nas margens tão próximas do Erges e do Tejo.

Importa, atualmente, por um lado, preservar a memória coletiva dessas épocas e, por outro, valorizar esse património imaterial pela promoção de turismo de experiências que se apoie nos relatos, vivências e recuperação de práticas e saberes relativos ao contrabando. A revivificação de rotas, acompanhada de narrativas alusivas a essas épocas, constitui um produto turístico com crescente procura neste espaço raiano do Parque Natural do Tejo Internacional e na sua envolvente próxima.
Na área de influência do Parque Natural do Tejo Internacional, na freguesia de Perais, Vila Velha de Ródão, existe um Núcleo Museológico dedicado ao tema do contrabando. Esta unidade museológica fica localizada na sede da Junta de Freguesia de Perais, aborda a história desta freguesia raiana e a importância que o contrabando teve no relacionamento entre as comunidades portuguesa e espanhola, em termos económicos, sociais e culturais.

Rota do Contrabando
freguesia de Perais,
concelho de Vila Velha de Ródão

Rota do Contrabando
freguesia de Perais,
concelho de Vila Velha de Ródão

Olival e azeite

País sob forte influência de clima mediterrânico, em Portugal a oliveira marca a paisagem desde tempos imemoriais. O olival tem também uma presença significativa na área do Parque Natural do Tejo Internacional e na sua envolvente próxima – é um símbolo maior da ruralidade ancestral que se vai ajustando aos novos desafios, não raramente associada ao montado, uma marca indelével das paisagens deste território e um símbolo maior de resiliência. Como refere o ditado, importado de outras geografias, “vives da tua amoreira, do castanheiro do teu pai, da oliveira do teu avô.”
A sua importância na alimentação e na economia local é inquestionável.

Ano após ano, o ciclo da colheita da azeitona e produção do azeite repete-se pelo Outono: todo o processo de transformação do azeite, que vai desde a apanha, à escolha e moagem da azeitona num lagar tradicional e termina na produção do azeite. Ainda hoje tem forte expressão no território, enquanto atividade de geração complementar de rendimentos, numa ótica familiar, mas, cada vez mais, no quadro de uma olivicultura mais modernizada e tecnologicamente mais intensiva. Existem, nesta zona, vários lagares que se mantêm em atividade, com produções de elevado nível de qualidade e que devem constituir também, locais a visitar.

Olival

Olival

Olival

Olival

Gastronomia

Feita de simplicidade.

A singularidade do território, das suas terras e das suas gentes rústicas, definiram a cozinha deste espaço beirão que abrange o Parque Natural do Tejo Internacional.
Espaço de fronteira, entre o Maciço Central e a grande peneplanície alentejana, a Beira Baixa e a Extremadura espanhola, as raízes desta cozinha fundam-se nessa multiplicidade de influências, com forte presença das tradições pastoris, das peças de caça, do peixe de rio e, naturalmente, num lugar cimeiro, do pão e do porco, como base de sustentação da família rural.
A simplicidade é a sua imagem de marca.

Não é uma cozinha de receituário que se baseie em devaneios gastronómicos ou na procura da sofisticação de sabores complexos. É a natureza a ditar leis, frequentemente avara e agreste para os que nela buscavam o seu sustento e o seu futuro. É, pois, uma cozinha prática, assente na excelência das matérias-primas de proximidade, com características rurais e populares, que lhe conferem o caráter genuíno destas terras. É, apesar de tudo, tão surpreendente quanto interessante,
constatar essa ligação umbilical ao território, enriquecida, aqui e ali, pelo trabalho culinário de gerações ligadas a casas mais abastadas.

Pão de centeio

Pão de centeio

O pão de centeio (que o de trigo era um mimo e vinha de Espanha), a azeitona, o azeite (“A melhor cozinheira é a azeiteira”), o mel, a carne de porco, mas também de ovinos e caprinos, a que se acrescentavam os peixes de rio (a inevitável miga de peixe) e a caça (coelhos, lebres, perdizes, pombos bravos, tordos, entre outras espécies, a que acresce, cada vez mais, o javali) quando era época, faziam os manjares desta Beira longínqua e esquecida. A presença do queijo, sobretudo produzido a partir de leite cru de ovelha, foi também um dos sustentos destes beirões, bem como, sazonalmente, os tortulhos, cogumelos ou míscaros.

Os porcos criavam-se com as sobras da cozinha e a festa familiar do dia da matança, traduzia-se em lombos, febras, presuntos, enchidos, miúdos, e alegravam muitas refeições de cachola, fritada e sarrabulho. O chamado laburdo (com fígado, entremeada e sangue de porco), associado especialmente a Salvaterra do Extremo e Monforte da Beira, e o bucho recheado à moda de Malpica do Tejo (ou bucho de ossos, típico enchido, curado pelo fumo, apresenta-se com pedaços de porco pouco coesos e de fácil desagregação ao corte, e traduz a preocupação de aproveitamento de todas as partes do porco), são, ainda hoje, pratos que é possível encontrar na restauração local.

Fabrico artesanal de queijo

Fabrico artesanal de queijo

Enquanto os homens eram responsáveis pela desmancha do porco e salga dos presuntos, as mulheres preparavam e condimentavam a carne para manualmente encherem os chouriços, salpicões, morcelas, farinheiras, cabendo-lhes, simultaneamente, a responsabilidade de transmitir segredos às gerações mais novas da família.
Não esqueçamos a doçaria tradicional: a bica de azeite, os biscoitos, borrachões, bolos de leite, bolos de azeite, esquecidos, broas de mel, broas de banha, e, com

foco na época pascal, o folar, bolo que ocupa um maior destaque dentro das oferendas cerimoniais que ocorrem durante este período. Um património gastronómico que reflete um território e as suas gentes, ligada ao devir das estações do ano, que ditavam tempos de abundância ou de privação alimentar, associada às festividades e religiosidades locais, às romarias e às tradições. Uma cozinha feita de simplicidade e genuinidade, à semelhança das suas gentes, que interessa preservar e valorizar.

Fabrico artesanal do pão

Fabrico artesanal do pão